Como devo dizer ao meu filho que ele tem autismo?

Como devo dizer ao meu filho que ele tem autismo?

Inclua o autismo nas conversas do dia a dia.

Se seu filho for diagnosticado jovem, digamos, como uma criança pequena ou em idade pré-escolar, os especialistas recomendam integrar o autismo à conversa diária desde o início. Os pais podem fazer isso quando a criança está recebendo intervenções de autismo, participando de eventos sociais para crianças com autismo ou assistindo TV ou lendo livros que apresentam personagens autistas. É tão simples quanto dizer: “Hoje vamos ao médico porque você tem autismo” ou “Julia da Vila Sésamo é autista como você”. Ao invés de evitar a palavra AUTISMO, faça com que ela seja um fato na vida familiar. Assim, não haverá necessidade em ser direto ao dizer a eles, pois eles crescerão sabendo essa palavra e que isso é algo característico deles. Algumas famílias preferem falar sobre as diferenças em como seus filhos pensam e percebem as coisas antes de introduzir a palavra “autismo”, e essa maneira também é positiva. Pode-se mencionar diferenças ou autismo no contexto das habilidades e desafios de uma criança ou destacando semelhanças e diferenças com outras pessoas. Por exemplo: “Seu cérebro autista é muito sensível a esses ruídos” ou “Seu cérebro funciona um pouco diferente do de seu irmão porque você é autista”. Quanto mais naturalmente for trazido para a conversa, melhor, porque então se torna parte de quem elas são. Trata-se de ajudá-las a ver que tudo bem ter diferenças e alguns desafios associados a essas diferenças. Usar o autismo para descrever alguns dos comportamentos de seu filho também é recomendado. Por exemplo: “Quando é difícil para você errar, é por causa do seu autismo. Às vezes, as pessoas que têm autismo têm vontade de sempre acertar.”

Prepare o cenário para uma conversa positiva.

Converse quando seu filho estiver calmo, feliz e as coisas estiverem indo bem. Não use o termo autismo quando eles estão tendo um acesso de raiva, pois não queremos que haja uma conotação negativa. Tente manter a conversa leve e casual. Dessa maneira, a criança não irá se lembrar do dia em que você se sentou com ela e disse que ela tinha autismo como um dia ruim e que uma má notícia foi dada a ele. Pense onde acontecem as grandes conversas em sua família, por exemplo, à mesa de jantar, em uma longa viagem de carro ou na cama e converse sobre o assunto.

Foco nos pontos fortes, desafios e diferenças.

Uma vez que você esteja pronto para a conversa, uma maneira simples de iniciá-la é mencionar o processo de avaliação. Pode-se começar com algo como: “Sabe como você fez todas aquelas atividades especiais? Descobrimos que seu cérebro funciona de maneira um pouco diferente e isso se chama autismo”. Considere explicar como os cérebros autistas e neurotípicos funcionam de maneira diferente usando uma analogia como computadores Mac e PC: eles apenas fazem as coisas de maneira um pouco diferente. E isso não significa que um computador seja menos que o outro. Outra opção é começar falando sobre pontos fortes, desafios e diferenças em geral. Fale sobre as coisas em que seu filho é bom e as coisas com as quais ele luta e, em seguida, faça o mesmo para outras pessoas, como irmãos e colegas de classe. Queremos ajudar a criança a entender que todo mundo tem pontos fortes e fracos em termos de habilidades e interesses.  Isso torna mais fácil envolver o autismo na conversa. Pode-se dizer algo como: “Autismo é uma palavra que descreve alguns dos pontos fortes e desafios que você tem”. Quando você introduz o autismo, a maioria dos especialistas recomenda uma abordagem individualizada, usando exemplos concretos dos pontos fortes e desafios da criança para explicar como o cérebro funciona, mantendo-o o mais positivo possível. É possível dizer algo como: “Você sabe como é difícil para você conversar com algumas das crianças na escola, ou você se sente um pouco estranho, ou não tem certeza de por que eles fazem as coisas que fazem? É por causa da maneira como seu cérebro funciona, e isso significa que você segue regras sociais diferentes e tem uma maneira diferente de se comunicar do que algumas outras crianças e isso é chamado de autismo.” Siga explicando o que é o autismo com base nos critérios diagnósticos. Por exemplo, se você está falando sobre um desafio social que seu filho tem, diga algo como: “O autismo é uma dificuldade de comunicação social, como contato visual e conversação. Você acha que tem dificuldades com isso?” Siga o exemplo de seus filhos, mantendo-o adequado à idade e adicionem informações ao longo do tempo, como por exemplo, se uma criança pergunta: “de onde vêm os bebês?”, você explicará diferentes informações em diferentes estágios, dependendo da dinâmica e dos valores de sua família”. Trata-se de um processo.

Deixe-os saber que há ajuda e comunidade.

Depois de dizer ao seu filho que ele tem autismo, informe-o de que há ajuda para alguns de seus desafios. Por exemplo, se eles tiverem dificuldades de comunicação, você pode falar sobre a terapia da fala. Se eles são sensíveis a ambientes barulhentos, você pode oferecer fones de ouvido. Os pais também podem ajudar as crianças a aprender mais sobre o autismo, fornecendo-lhes livros infantis sobre o assunto, principalmente aqueles escritos por pessoas autistas. Procure livros que apresentem crianças autistas com perfis de habilidades semelhantes aos de seus filhos para garantir que eles possam se conectar à história. Informe aos filhos que existe uma comunidade próspera de crianças autistas e muitas oportunidades de se conectar por meio de coisas como grupos de jovens autistas e atividades sociais.

Receber um diagnóstico dá à criança acesso a um grupo de pares, o que é um grande ganho se eles não tiveram muita interação positiva com os pares. 

Esteja pronto para as reações e perguntas do seu filho.

Reações de alívio e indiferença, choque e confusão, tristeza e raiva, as crianças podem ter uma variedade de emoções quando ouvem que têm autismo. Diga algo como: “esses são grandes sentimentos e devem parecer meio ruins agora’”. Nessas situações, os pais podem tentar trazer a conversa de volta para como cada pessoa é diferente e tem pontos fortes e desafios únicos, e até mencionar como existem todos os tipos de pessoas famosas e bem-sucedidas com autismo, como Greta Thunberg. Esteja pronto para as perguntas de seus filhos. Alguns dos mais comuns que os especialistas ouviram são “Como consegui isso?”, “É contagioso?” e “Isso vai embora?” Perguntas como essas são uma oportunidade para explicar que elas nasceram com autismo, o cérebro de todas as crianças se desenvolve de maneira diferente e, embora isso não desapareça, elas podem obter ajuda com seus desafios. Também, não há problema em não ter todas as respostas. “Você pode dizer: ‘Não tenho certeza, vamos pesquisar isso juntos.”

Faça a conversa fluir.

Depois de contar ao seu filho sobre o diagnóstico, continue a conversa. A princípio, você pode fazer isso perguntando como ele está se sentindo após a primeira conversa ou se ele tem alguma dúvida e, em seguida, verifique a cada uma ou duas semanas para ver como as coisas estão indo. Com o passar do tempo, você pode procurar oportunidades incidentais para trazer o autismo. Por exemplo, você pode ficar de olho nas histórias sobre pessoas com autismo nos noticiários e apresentá-las à mesa de jantar. É importante inserir isso no maior número possível de conversas e não deixá-lo escapar de sua consciência, mas também, não se deve insistir no assunto e tentar falar sobre isso todos os dias.

*Este artigo usa a linguagem que prioriza a pessoa e a identidade, pois os membros da comunidade autista têm preferências diferentes.

3 thoughts on “Como devo dizer ao meu filho que ele tem autismo?

  1. Maria Guiomar Carvalho disse:

    Preciso ter essa conversa com meu filho. Esse poste me ajudou muito.

  2. Júlia disse:

    Tô aguardando o momento de dizer isso aí meu filho, ele já usa o cordão e ver sempre nos lugares o símbolo, como os quebra cabeças e fica se perguntando, ele sempre diz: ah mamãe igual o meu, então preciso começar a explicar pra ele, essa matéria me ajudou bastante.

  3. Hosana S grande disse:

    Que conteúdo fabuloso!!!!
    Nossa,agora vou poder ajudar meu neto autista.Que bom que existe profissionais que nos ajudam meu Deus
    Muito muito obrigado!!!

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