Erros comuns ao implementar o reforçador

O principal objetivo do trabalho com aprendizes com autismo  é ensinar comportamentos desejáveis e diminuir comportamentos indesejáveis. Em outras palavras, reforçar a emissão de comportamentos adequados, e não reforçar a emissão de comportamentos inadequados. Simples, não? Não…

Segundo Catania (1999), a terminologia do reforço requer que uma resposta tenha uma consequência, que o responder aumente e que o aumento ocorra porque o responder tem consequências e não por outras razões. Satisfeitas essas condições, dizemos que a resposta foi reforçada, e que o estímulo era um reforçador.

Aqui estão alguns erros que acontecem na hora de reforçar os comportamentos desejados:

1) Falha ao identificar os itens reforçadores para o aprendiz: É muito comum o adulto assumir que um brinquedo ou atividade “é um reforçador”. Isso acontece porque ou a pessoa esqueceu o básico, ou ela não sabe o significado consequência reforçadora. Por definição, o estímulo reforçador é uma consequência, que quando apresentada contingente a um comportamento, a frequência desse comportamento aumentará. Por exemplo, o bebê aponta o dedo indicador na direção do livro (comportamento) e a mãe entrega o livro para ele (consequência); se o bebê apontar novamente para o livro, dizemos que o comportamento foi reforçado e o livro é o estímulo reforçador do comportamento de apontar. Portanto, para que o ensino de novos comportamentos seja realizado com sucesso, é preciso identificar quais são os itens de interesse do aprendiz. Ele pode gostar de livros e massinha, mas pode não gostar de bola de sabão. Para identificar quais itens podem ser usados como estímulo reforçador, basta observar o que o aprendiz faz quando está na situação livre de demanda.

2) Retirada da consequência reforçadora muito rapidamente: Imagine que você está treinando o contato visual de uma criança chamada Felipe. Inicialmente, toda vez que você chamá-lo pelo nome e ele olhar, você assopra bolinha de sabão e elogia o belo contato visual: “Parabéns, Felipe! Você olhou para mim!”. Você recomenda para os pais treinarem esse comportamento da seguinte maneira: “toda vez que vocês chamarem Felipe, mostre um item de preferência, por exemplo, chupeta, carrinho, etc., e,  só entregue o item quando ele olhar nos seus olhos”. Nos primeiros dias, o contato visual de Felipe aumentou. A família afirmou que o filho estabeleceu contato visual toda vez que era chamado, e descontinuaram o procedimento. No entanto, logo que deixaram de usar o item de preferência como consequência, o filho deixou de olhar quando chamado… Frequentemente, esquecemos de reforçar o comportamento desejado. Para evitar esse tipo de problema, escreva o plano de intervenção com os passos para retirada gradativa do reforçador.

3) Falta de consistência na aplicação do procedimento: Outro erro muito comum é não manter o mesmo procedimento nas diversas situações do dia a dia do aprendiz. Por exemplo, na casa, os pais podem reforçar o contato visual do filho consistentemente, porém, na escola, os professores podem não saber do procedimento, e acabam não exigindo ou reforçando  o contato visual. Garanta que os procedimentos sejam implementados por todas as pessoas envolvidas.

4) Não planejar a transição para reforçadores naturais: Um dos mitos da análise do comportamento é o uso de reforçadores artificiais. Quando iniciamos o trabalho para modificar ou ensinar comportamentos, utilizamos reforçadores arbitrários como consequência da resposta desejada. A utilização desses reforçadores fazem com que a taxa do comportamento aumente. Vamos pegar o exemplo de Felipe. Inicialmente, todas as vezes que chamávamos Felipe e ele olhava, um item de preferência era entregue imediatamente. Com isso, a frequência do contato visual aumentou. Essa estratégia foi essencial para ensinar Felipe a olhar. Contudo, o objetivo final desse treino é fazer com que o comportamento fique sob controle da consequência natural. Para resolvermos esse problema, precisamos identificar qual é a consequência natural do comportamento. Quando alguém olha para nós, qual é a consequência natural? Normalmente, nós falamos algo, olhamos de volta, damos um sorriso, continuamos com a conversa, etc. O contato visual é o comportamento que dá início a uma interação. No caso do procedimento de Felipe, o segundo passo poderia ser esperar 5 segundos com ele olhando, antes de entregar o item de preferência, e sempre pareando com elogios e sorrisos. Depois de várias tentativas bem sucedidas, o terceiro passo seria afastar-se dele, e chamá-lo pelo nome, exigindo o contato visual, e assim por diante.

O procedimento de ensino pode ir em diferentes direções. A determinação dos passos dependerá sempre do objetivo final a ser ensinado a longo prazo.

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